sexta-feira, 13 de maio de 2011

Desacerto

Desacerto

Ternura em movimento
Vamos os dois, o sol e a sombra juntos
O futuro e o passado no presente.
O que te digo é urgente
O que tu me respondes não tem pressa.
A minha voz acaba na vertente
Onde a tua começa.

Apertamos as mãos enamoradas.
Uma quente, outra fria…
E sorrimos às flores que no caminho
Nos olham com seus olhos perfumados.
Tu, de pura alegria
Eu, de melancolia…
Um a cuidar e o outro sem cuidados.

Canta um ribeiro ao lado.
Ambos o ouvimos, mas diversamente.
O que em ti é promessa de frescura
À terra da semente semeada
Em mim é já certeza de secura
De raiz arrancada.

Almas amantes e desencontradas
Na breve conjunção
Que tiveram na vida
Levo de ti um halo de pureza
Deixo-te a inquietação duma lembrança…
E é inútil pedir mais à natureza
Surda ao meu desespero e à tua confiança

[Miguel Torga]

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