Bruno Pinto 1992
Mandaste-me dizer
No teu bilhete ardente
Que hás-de por mim morrer
Morrer muito contente.
Lançaste no papel
As mais lascivas frases
A carta era um painel
De cenas de rapazes!
Oh cálida mulher
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!
Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso
Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.
Teus olhos sensuais
Libidinosa Marta
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.
As grandes comoções
Tu neles, sempre espelhas
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...
Teus olhos imorais
Mulher, que me dissecas
Teus olhos dizem mais
Que muitas bibliotecas!
[Cesário Verde]
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