“O Guardador de Sonhos” - Aguarela de Jorge Alexandre
Campino do Ribatejo!
Figura que nasce e morre
Nos campos da beira-mar!
Tão portuguesa e tão bela
Na sua simplicidade
Que até na sua pobreza
Nunca sabe mendigar!
Entre cavalos e toiros
Na lezíria assoalhada
A sua figura esbelta
Tem um encanto infinito:
Barrete verde; o colete
Encarnado sobre a neve
Da camisa de algodão
Jaleca bem recortada
Meia branca, os albardões
As esporas, o calção
Azul cobalto justinho
E a cinta escarlate quente
Da cor do sangue ou do vinho.
Além, naquele valado
As papoilas e o junquilho
Fazem troféu, há mais luz!
Um harmónio no fandango
Vibra e salta no compasso
Magoadamente agitado!
Anda no ar o farrapo
Dolente de uma cantiga
Mordida pelo ciúme!
E o fandango vai dançado!
Ninguém se mexe. Só ele
Bamboleado
Desempenado, perfeito
E as pernas? Como ele as dobra?
E aquela curva do peito?
Trás um cravo na orelha
E dança, dança, o harmónio
Vai-lhe graduando o alento
A luz perturba, mulheres
Ficaram mudas a olhá-lo!
A garotada assobia
Acentuando o motivo
Musical, mas, a preceito
E o Sol, apesar do dia
Nascer fosco e marralheiro
Parece lume! O fandango
Com a graça de um campino
É Portugal verdadeiro!
[António Botto]
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