Eu hei-de falar-lhe lugubremente
Do meu amor enorme e massacrado
Falar-lhe com a luz e a fé dum crente.
Hei-de expor-lhe o meu peito descarnado
Chamar-lhe minha cruz e meu calvário
E ser menos que um Judas empalhado.
Hei-de abrir-lhe o meu íntimo sacrário
E desvendar-lhe a vida, o mundo, o gozo
Como um velho filósofo lendário.
Hei-de mostrar, tão triste e tenebroso
Os pegos abismais da minha vida
E hei-de olhá-la dum modo tão nervoso
Que ela há-de, enfim, sentir-se constrangida
Cheia de dor, tremente, alucinada
E há-de chorar, chorar enternecida!
E eu hei-de, então, soltar uma risada.
[Cesário Verde]
Sem comentários:
Enviar um comentário