terça-feira, 29 de junho de 2010

O colchão dentro do toucado


O colchão dentro do toucado

Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.

A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz com a doce voz que o ar serena:
- Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada...

- Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos? E dizendo isto...

Arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...

[Nicolau Tolentino]

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