domingo, 26 de setembro de 2010

Testamento do Poeta

Testamento do Poeta

Todo esse vosso esforço é vão, amigos!
Não sou dos que se aceita... a não ser mortos.
Demais, já desisti de quaisquer portos
Não peço a vossa esmola de mendigos.

O mesmo vos direi, sonhos antigos
De amor! olhos nos meus outrora absortos!
Corpos já hoje inchados, velhos, tortos,
Que fostes o melhor dos meus pascigos!

E o mesmo digo a tudo e a todos,  hoje
Que tudo e todos vejo reduzidos
E ao meu próprio Deus nego e o ar me foge.

Para reaver porém, todo o Universo.
E amar! E crer! E achar meus mil sentidos!....
Basta-me o gesto de contar um verso.

[José Régio]

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