terça-feira, 26 de outubro de 2010

(Com)Passos

     (Com)Passos

    Como compassos
    abrem-se em passos maiores
    apressadas, inquietas,
    sóbrias, nuas, indiscretas,
    lânguidas, em lentos passos,
    por avenidas, esquinas, corredores,
    as duas pernas da mulher.
    Secreto o centro que as une
    e as afasta
    mantendo aceso o lume
    desse calor que as não gasta.

    Deixam rastos, desenhos, arabescos
    pelas calçadas, ruas e passeios,
    se nos prometem na cor dos lábios frescos
    a sombra nua da rosa dos seus seios.
    Como se cruzam e se abrem em desafio,
    como convidam, sem silencio, se ela quer
    a esse galope, às vezes terno, às vezes frio
    à rédea solta rumo ao centro da mulher.
    Marcam  a andar, o ritmo do Universo,
    do coração conhecem a rotina.
    Por uma flor, às vezes por um verso
    da pura e casta desperta a libertina.

    Compasso vivo, metrónomo complexo
    que marca o tempo e o andamento do prazer,
    chama-se amor ou profissão ou apenas sexo,
    seja ela amante, prostituta ou só mulher.

     [Fernando Tavares Rodrigues]

7 de Março de 1954 – 1 de Março de 2006

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