(Com)Passos
Como compassos
abrem-se em passos maiores
apressadas, inquietas,
sóbrias, nuas, indiscretas,
lânguidas, em lentos passos,
por avenidas, esquinas, corredores,
as duas pernas da mulher.
Secreto o centro que as une
e as afasta
mantendo aceso o lume
desse calor que as não gasta.
Deixam rastos, desenhos, arabescos
pelas calçadas, ruas e passeios,
se nos prometem na cor dos lábios frescos
a sombra nua da rosa dos seus seios.
Como se cruzam e se abrem em desafio,
como convidam, sem silencio, se ela quer
a esse galope, às vezes terno, às vezes frio
à rédea solta rumo ao centro da mulher.
Marcam a andar, o ritmo do Universo,
do coração conhecem a rotina.
Por uma flor, às vezes por um verso
da pura e casta desperta a libertina.
Compasso vivo, metrónomo complexo
que marca o tempo e o andamento do prazer,
chama-se amor ou profissão ou apenas sexo,
seja ela amante, prostituta ou só mulher.
[Fernando Tavares Rodrigues]
7 de Março de 1954 – 1 de Março de 2006
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