segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Como Queiras, Amor ...

Como Queiras, Amor ...

Como queiras Amor, como tu queiras.
Entregue a ti, a tudo me abandono,
seguro e certo, num terror tranquilo.
A tudo quanto espero e quanto temo,
entregue a ti, Amor, eu me dedico.

Nada há que eu não conheça, que eu não saiba
e nada, não! Ainda há por que eu não espere
como de quem ser vida é ter destino.

As pequeninas coisas da maldade, a fria
e tão tenebrosa divisão do medo
em que os homens se mordem com rosnidos
de mal contente crueldade imunda,
eu sei quanto me aguarda e me deseja
e sei até quanto ela a mim me atrai.

Como queiras Amor, como tu queiras.
De frágil que és, não poderás salvar-me.
A tua nobreza, essa ternura tépida
quais olhos marejados, carne entreaberta,
será só escárnio, ou pior, um vão sorriso
em lábios que se fecham como olhares de raiva.
Não poderás salvar-me, nem salvar-te.
Apenas como queiras ficaremos vivos.

Será mais duro que morrer, talvez.
Entregue a ti porém, eu me dedico
àquele amor por qual fui homem, posse
e uma tão extrema sujeição de tudo.

Como tu queiras, Amor, como tu queiras.

[Jorge de Sena]


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