sábado, 18 de dezembro de 2010

O Papão

O Papão

As crianças têm medo à noite, às horas mortas,
Do papão que as espera hediondo, atrás das portas,
Para as levar no bolso ou no capuz dum frade.
Não te rias da infância, oh velha humanidade,
Que tu também tens medo ao bárbaro papão,
Que ruge pela boca enorme do trovão,
Que abençoa os punhais sangrentos dos tiranos,
Um papão que não faz a barba há seis mil anos,
E que mora, segundo os bonzos têm escrito,
Lá em cima, detrás da porta do infinito!

[Guerra Junqueiro]

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