quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Parasitas

Parasitas

No meio duma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços
Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos
Exploravam assim a flor do sentimento
E o monstro arregalava os grandes olhos baços
Uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos

Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz
Que andais pelo universo há mil e tantos anos
Exibindo, explorando o corpo de Jesus

[Guerra Junqueiro]

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