segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

WORDS WORDS...

WORDS WORDS...

Contam que em pequenino costumava
Ao ver-me num cristal reproduzido
Beijar a própria boca, em que julgava
Ver a boca d'alguém desconhecido.

Cresci, amei-a e tão alheio andava
No sonho por seus olhos promovido,
Que em vez das cartas que ela me mandava,
Eu lia o que trazia no sentido.

Rodou o tempo, estou doente e velho...
 Agora, se me acerco dum espelho,
Oh meus cabelos, que alvejais...

E as cartas d'ela, se as releio agora
Só vejo por aquelas linhas fora
Palavras, só palavras…nada mais!

[Augusto Gil]

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