WORDS WORDS...
Contam que em pequenino costumava
Ao ver-me num cristal reproduzido
Beijar a própria boca, em que julgava
Ver a boca d'alguém desconhecido.
Cresci, amei-a e tão alheio andava
No sonho por seus olhos promovido,
Que em vez das cartas que ela me mandava,
Eu lia o que trazia no sentido.
Rodou o tempo, estou doente e velho...
Agora, se me acerco dum espelho,
Oh meus cabelos, que alvejais...
E as cartas d'ela, se as releio agora
Só vejo por aquelas linhas fora
Palavras, só palavras…nada mais!
[Augusto Gil]
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