domingo, 2 de janeiro de 2011

Anomalias do Amor

Anomalias do Amor

Velhinhos há de coração ardente
Como há mancebos de alma encanecida
Cedo anoitece para uns a vida
E para outros não tem fim o poente.

O moço para o amor indiferente
É campa de si mesmo, arrefecida
E o velho, que ama com paixão dorida
Dentro do peito um prisioneiro sente.

Um leva o coração, de neve cheio
Arde o outro em chamas rútilas, inquietas
E ambos, descalços, vão pisando as brasas…

Qual merece mais dó? Sábios, dizei-o:
O moço que só anda de muletas
Ou o velho que ainda quer ter asas

[Eugénio de castro]


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