Ao Vento
O vento passa a rir, torna a passar
Em gargalhadas ásperas de demente
E esta minh’alma trágica e doente
Não sabe se há de rir, se há de chorar!
Vento de voz tristonha, voz plangente
Vento que ris de mim sempre a troçar
Vento que ris do mundo e do amor
A tua voz tortura toda a gente!...
Vale-te mais chorar, meu pobre amigo!
Desabafa essa dor a sós comigo
E não rias assim!... Ó vento, chora!
Que eu bem conheço, amigo, esse fadário
Do nosso peito ser como um Calvário
e a gente andar a rir p’la vida fora!!...
[Florbela Espanca]
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