quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Auto-Crítica

Auto-Crítica

Cesário diz-me muito:
gostava de ferramentas, como eu
e vê-se que para ele o ser feliz
era lançar, originais e exactos
os seus alexandrinos
empunhar ferramental honesto
cuja eficácia ele sabia
que não vinha da beleza
mas da perfeita adequação.
Não tem halo, tem elo
e o seu encadeado
é o verso habilmente proseado.

(Que feliz eu seria, ó prima se o Cesário
 me tivesse deixado uma garlopa!)
António Nobre, embora seja muito em inho,
é o grande Só que somos nós
por isso gosto dele(ai de mim, coitadinho!)

(E em conclusão do megalómano discurso,
ó prima, um bilhete-postal para o Pessoa,
a quem devemos todos tanto, a prima inclusive!)

Muito querido Pessoa, saberias agora
que não basta ser lúcido, merda
que não basta a gente coser-se com as paredes
e cercar de grandes muros quem se sonha,
que não basta dizer… basta de provincianos!

 [Alexandre O’Neill]

Sem comentários:

Enviar um comentário