quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O meu amor não cabe num poema…

O meu amor não cabe num poema…

O meu amor não cabe num poema – há coisas assim,
que não se rendem à geometria deste mundo
são como corpos desencontrados da sua arquitectura
ou quartos que os gestos não preenchem.

O meu amor é maior que as palavras,e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidade do texto
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías
nem a candura da mão que protege a chama que estremece.

O meu amor não se deixa dizer ,é um formigueiro
que acode aos lábios como a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente dos segredos, a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele,vestígios
de uma explosão exemplar: a cratera que um corpo
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.

O meu amor anda por dentro do silêncio a formular loucuras
com a nudez do teu nome , é um fantasma que estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.

Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta.
Nenhum poema
podia ser o chão da sua casa.

[Maria do Rosário Pedreira]

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