quarta-feira, 9 de março de 2011

Com lento amor

Com lento amor
olhava os dispersos tons da tarde.
A ela comprazia perder-se
na complexa melodia
Ou na curiosa vida dos versos.

Não o rubro elemental mas os cinzentos
Fiaram seu destino delicado
Feito a discriminar e exercitado
Na vacilação e nos matizes.

Sem se atrever a andar
neste perplexo labirinto
olhava lá de fora as formas
o tumulto e a carreira.

Como aquela outra dama do espelho.
Deuses que habitam para lá do rogo
Abandonaram-na a esse tigre, o Fogo.

[Jorge Luis Borges]

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