domingo, 20 de março de 2011

A morte absoluta


Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne
A exangue máscara de cera
Cercada de flores
Que apodrecerão felizes num dia.
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: Quem foi?

Morrer mais completamente ainda
Sem deixar sequer esse nome.

[Manuel Bandeira]

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