terça-feira, 1 de março de 2011

O Poeta

O Poeta

Trabalha agora
na importação e exportação.
Importa metáforas, exporta alegorias.
Podia ser
um trabalhador por conta própria
um desses que preenche
cadernos de folha azul
com números de deve e haver.
De facto, o que deve são palavras
e o que tem é esse vazio de frases
que lhe acontece quando se encosta
ao vidro, no inverno
e a chuva cai do outro lado.
Então, pensa
que poderia importar o sol
e exportar as nuvens.
Poderia ser um trabalhador do tempo.
Mas, de certo modo
a sua prática confunde-se
com a de um escultor do movimento.
Fere, com a pedra do instante
o que passa a caminho da eternidade
suspende o gesto que sonha o céu
e fixa, na dureza da noite
o bater de asas, o azul…
a sábia interrupção da morte.

[Nuno Júdice]

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