quarta-feira, 30 de março de 2011

Rua dos rostos perdidos

Este vento não leva apenas os chapéus
estas plumas, estas sedas:
este vento leva todos os rostos
muito mais depressa.

Nossas vozes já estao longe
e como se pode conversar
como podem conversar estes passantes
decapitados pelo vento?

Não, não podemos segurar o nosso rosto:
as mãos encontram o ar
a sucessão das datas
a sombra das fugas, impalpável.

Quando voltares por aqui
saberás que teus olhos
não se fundiram em lagrimas, não
mas em tempo.

De muito longe avisto a nossa passagem
nesta rua, nesta tarde, neste outono
nesta cidade, neste mundo, neste dia.
(Não leias o nome da rua, - não leias!)

Conta as tuas historias de amor
como quem estivesse gravando
vagaroso, um fiel diamante.
E tudo fosse eterno e imóvel.

[Cecília Meireles]

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