quinta-feira, 10 de março de 2011

Soneto à maneira de Camões

Esperança e desespero de alimento
Me servem neste dia em que te espero
E já não sei se quero ou se não quero
Tão longe de razões é meu tormento.

Mas como usar amor de entendimento?
Daquilo que te peço desespero
Ainda que mo dês , pois o que eu quero
Ninguém o dá senão por um momento.

Mas como és belo, amor, de não durares
De ser tão breve e fundo o teu engano
E de eu te possuir sem tu te dares.

Amor perfeito dado a um ser humano:
Também morre o florir de mil pomares
E se quebram as ondas no oceano.

[Sophia de Mello Breyner Andresen]

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