segunda-feira, 25 de abril de 2011

Campino do Ribatejo!

“O Guardador de Sonhos” - Aguarela de Jorge Alexandre

Campino do Ribatejo!

Figura que nasce e morre
Nos campos da beira-mar!
Tão portuguesa e tão bela
Na sua simplicidade
Que até na sua pobreza
 Nunca sabe mendigar!

Entre cavalos e toiros
Na lezíria assoalhada
A sua figura esbelta
Tem um encanto infinito:
Barrete verde; o colete
Encarnado sobre a neve

Da camisa de algodão
Jaleca bem recortada
Meia branca, os albardões
As esporas, o calção
Azul cobalto justinho
E a cinta escarlate quente
Da cor do sangue ou do vinho.

Além, naquele valado
As papoilas e o junquilho
Fazem troféu, há mais luz!

Um harmónio no fandango
Vibra e salta no compasso
Magoadamente agitado!

Anda no ar o farrapo
Dolente de uma cantiga
Mordida pelo ciúme!

E o fandango vai dançado!

Ninguém se mexe. Só ele
Bamboleado
Desempenado, perfeito
E as pernas? Como ele as dobra?

E aquela curva do peito?
Trás um cravo na orelha
E dança, dança, o harmónio
Vai-lhe graduando o alento
A luz perturba, mulheres
Ficaram mudas a olhá-lo!

A garotada assobia
Acentuando o motivo
Musical, mas, a preceito
E o Sol, apesar do dia
Nascer fosco e marralheiro
Parece lume! O fandango
Com a graça de um campino
É Portugal verdadeiro!


[António Botto]

Sem comentários:

Enviar um comentário