quinta-feira, 19 de maio de 2011

A Vulgar Que Passou

Não eras para os meus sonhos, não eras para a minha vida
nem para os meus cansaços perfumados de rosas
nem para a impotência da minha raiva suicída
não eras a bela e doce, a bela e dolorosa.

Não eras para os meus sonhos, não eras para os meus cantos
não eras para o prestígio dos meus amargos prantos
não eras para a minha vida nem para a minha dor
não eras a fugitiva de todos os meus encantos.
Não merecias nada. Nem o meu áspero desencanto
nem sequer o lume que pressentiu o Amor.

Bem feito, é muito bem feito que tenhas passado em vão
que a minha vida não se tenha submetido ao teu olhar
que aos antigos prantos se não tenha juntado
a amargura dolente de um estéril chorar.

Tu eras para o imbecil que te quisesse um pouco.
(Oh! meus sonhos doces, oh meus sonhos loucos!)
Tu eras para um imbecil, para um qualquer
que não tivesse nada dos meus sonhos, nada
mas que te daria o prazer animal
o curto e bruto gozo do espasmo final.

Não eras para os meus sonhos, não eras para a minha vida
nem para os meus quebrantos, nem para a minha dor
não eras para os prantos das minhas duras feridas
não eras para os meus braços, nem para a minha canção.

[Pablo Neruda]

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