Não partas já.
Fica até onde a noite
se dobra
para o lado da cama
e o silêncio recorta
as margens do tempo.
É aí que os livros
começam devagar
e as cores nos cegam
e as mãos fazem
de norte na viagem.
Parte apenas
quando a manhã se ferir
nos espelhos do quarto
em estilhaços de luz
e um feixe de poeiras
rasgar as janelas
como uma ave desabrida.
Alguém murmurará
então o teu nome
vagamente
como a gastar os dedos
na derradeira página.
E então ,sim ,parte
para que outra história
se invente mais tarde
quando os pássaros
gritarem à primeira lua
e os gatos se deitarem
sobre o muro, de olhos acesos
fingindo que perguntam.
[Maria do Rosário Pedreira]
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