terça-feira, 28 de junho de 2011

Não partas já

Não partas já.
Fica até onde a noite
 se dobra
para o lado da cama
 e o silêncio recorta
as margens do tempo.
É aí que os livros
começam devagar
 e as cores nos cegam
e as mãos fazem
 de norte na viagem.
Parte apenas
quando a manhã se ferir
 nos espelhos do quarto
em estilhaços de luz
 e um feixe de poeiras
rasgar as janelas
 como uma ave desabrida.
Alguém murmurará
então o teu nome
vagamente
 como a gastar os dedos
 na derradeira página.
E então ,sim ,parte
 para que outra história
 se invente mais tarde
quando os pássaros
 gritarem à primeira lua
 e os gatos se deitarem
 sobre o muro, de olhos acesos
fingindo que perguntam.

[Maria do Rosário Pedreira]

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