Os gatos brancos, descoloridos
passeiam pela tinturaria
miram policromos vestidos.
Com soberana melancolia
brota nos seus olhos erguidos
o arco-íris, resumo do dia
ressuscitando dos seus olvidos
onde apagado cada um jazia
abstratos lumes sucumbidos.
No vasto chão da tinturaria
xadrez sem fim, por onde os ruídos
atropelam a geometria
os grandes gatos abrem compridos
bocejos, na dispersão vazia
da voz feita para gemidos.
E assim proclamam a monarquia
da renúncia e tranquilos, vencidos
dormem seu tempo de agonia.
Olham ainda para os vestidos
mas baixam a pálpebra fria
[Cecília Meireles]
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