Filipe II tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro
com fivela de oiro
olho de perdiz.
Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha
de cristal de rocha
do mais transparente.
Andava nas salas
forradas de Arrás
com panos por cima
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos
combates de galos
alões e podengos
falcões e cavalos.
Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco
e a tíbia de um santo
guardada num frasco.
Foi dono da Terra
foi senhor do Mundo
nada lhe faltava
Filipe Segundo.
Tinha oiro e prata
pedras nunca vistas
safiras, topázios
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo
sem peso nem conta
bragas de veludo
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho-éclair.
[António Gedeâo]
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