quinta-feira, 14 de julho de 2011

Poema do fecho-éclair

Filipe II tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro com pedras rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro
com fivela de oiro
olho de perdiz.

Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha
de cristal de rocha
do mais transparente.

Andava nas salas
forradas de Arrás
com panos por cima
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos
combates de galos
alões e podengos
falcões e cavalos.

Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.

Na mesa do canto
vermelho damasco
e a tíbia de um santo
guardada num frasco.

Foi dono da Terra
foi senhor do Mundo
nada lhe faltava
Filipe Segundo.

Tinha oiro e prata
pedras nunca vistas
safiras, topázios
rubis, ametistas.
Tinha tudo, tudo
sem peso nem conta
bragas de veludo
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.

O que ele não tinha
era um fecho-éclair.

[António Gedeâo]

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