Amigo
tu que choras uma angústia qualquer
e falas de coisas mansas como o luar
e paradas como as águas
de um lago adormecido, acorda!
Deixa de vez
as margens do regato solitário
onde te miras
como se fosses a tua namorada.
Abandona o jardim sem flores
desse país inventado
onde tu és o único habitante.
Deixa os desejos sem rumo
de barco ao deus-dará
e esse ar de renúncia
às coisas do mundo.
Acorda, amigo
liberta-te dessa paz podre de milagre
que existe apenas na tua imaginação.
Abre os olhos e olha
abre os braços e luta!
Amigo
antes da morte vir
nasce de vez para a vida.
[Manuel da Fonseca]
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