domingo, 23 de outubro de 2011

Lisboa


No bairro de Alfama
 os eléctricos amarelos
 cantavam nas subidas.
Havia duas prisões.
 Uma delas era para os gatunos.
Eles acenavam através das grades.
Eles gritavam.
Eles queriam ser fotografados!

"Mas aqui", dizia o revisor
 e ria baixinho como um afectado
"aqui sentam-se os políticos".
 Eu vi a fachada
 a fachada e em cima
 a uma janela, um homem
com um binóculo à frente dos olhos
 espreitando para além do mar.

A roupa pendia no azul.
 Os muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos depois
 peguntei a uma dama de Lisboa:
Isto é real?
 Ou fui eu que sonhei ?

[Tomas Tranströmer – Prémio Nobel  - 2011]

(Tradução por Luís Costa)

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