quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Festa do Silêncio

 
Escuto na palavra
a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio.
As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam
 tão próximas de si mesmas.
Concentram-se
dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo?
É um pomar de espuma.

Uma criança brinca nas dunas
 o tempo acaricia, o ar prolonga.
 A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa:
a simples respiração.
Relações, variações, nada mais.
 Nada se cria e vimos.
Algo inunda, incendeia, recomeça.

Nada é inacessível
no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente
 o vento principia.
No centro do dia
 há uma fonte de água clara.
Se digo árvore
 a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.

[António Ramos Rosa]

                                                         

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