terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Missa de Aniversário


Há um ano
que os teus gestos
andam ausentes da nossa freguesia
Tu que eras destes campos
onde de novo a seara amadurece
donde és hoje?
Que nome novo tens?
Haverá mais singular fim de semana
do que um sábado assim
que nunca mais tem fim?
Que ocupação é agora a tua
que tens todo o tempo livre à tua frente?
Que passos te levarão atrás
do arrulhar da pomba em nossos céus?
Que te acontece que não mais fizeste anos
embora a mesa posta continue à tua espera
e lá fora na estrada as amoreiras
tenham outra vez  florido?

Era esta a voz dele assim é que falava
dizem agora as giestas desta sua terra
que o viram passar nos caminhos da infância
junto ao primeiro voo das perdizes

Já só na gravata
te levamos morto àqueles caminhos
onde deixaste a marca dos teus pés
Apenas na gravata.
A tua morte deixou de nos vestir completamente
No verão em que partiste
bem me lembro
pensei coisas profundas
É de novo verão.
Cada vez tens menos lugar
neste canto de nós
donde anualmente
te havemos piedosamente
de desenterrar
Até à morte da morte

[Ruy Belo]

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