quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Confronto

Bateu Amor à porta da Loucura.
Deixa-me entrar, pediu , sou teu irmão.
Só tu me limparás da lama escura
a que me conduziu minha paixão.

A Loucura desdenha recebê-lo
sabendo quanto Amor vive de engano
mas estarrece de surpresa ao vê-lo
de humano que era, assim tão inumano.

E  exclama: Entre correndo, o pouso é teu.
Mais que ninguém mereces habitar
minha casa infernal, feita de breu

enquanto me retiro, sem destino
pois não sei de mais triste desatino
que este mal sem perdão, o mal de amar.

[Carlos Drummond de Andrade]

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