sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Demora

 O amor condena-nos :
demoras, mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.
Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.

Quando chegas
já não sou, senão saudade
e as flores tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.

Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.

Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.

O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo  deita-se no meu,
um rio vai-se  aguando até ser mar.

[Mia Couto]

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