Não vás para tão
longe!
Vem sentar-te aqui
na chaise-longue
ao pé de mim...
Tenho o desejo doido de contar-te
Estas saudades que não tinham fim.
Não vás para tão longe
Quero ver se ainda sabes olhar-me
como d'antes e se
nas tuas mãos acariciantes
Inda existe o perfume de que eu gosto.
Não vás para tão longe!
Tenho medo do silêncio pesado d'esta sala...
Como soluça o vento no arvoredo!
E a tua voz, amor, como se cala!
Não vás para tão longe!
Antigamente, era sempre demais o curto espaço
Que havia entre nós dois...
Agora, um embaraço, hesitas e depois
Com um gesto de tédio e de cansaço,
Achas inconveniente o meu abraço.
Não vás para tão longe!
Fica. Inda é tão cedo!
O vento continua a fustigar
Os ramos sofredores do arvoredo,
E eu ponho-me a pensar
E tenho medo!
Não vás para tão longe!
Na sombra impenetrada
Como se agita e se debate o vento!...
Paira nas velhas ruínas do convento
que além se avista
A alma melancólica d'um monge
Que a vida arremessou àquela crista...
Céu apagado, negro, pessimista
E tu sempre mais longe!...
[Fernanda de Castro]
Pintura a óleo de Anita Malfatti
(Fernanda de Castro. 1922)
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