E de novo, Lisboa, te remancho
numa deriva de quem tudo olha
de viés: esvaído, o boi no gancho
ou o outro vermelho que te molha.
Sangue na serradura ou na calçada
que mais faz se é de homem ou de boi?
O sangue é sempre uma papoila errada
cerceado do coração que foi.
Groselha, na esplanada, bebe a velha
e um cartaz, da parede, nos convida
a dar o sangue. Franzo a sobrancelha:
dizem que o sangue é vida; mas que vida?
Que fazemos Lisboa, os dois, aqui
na terra onde nasceste e eu nasci?
[Alexandre O'Neill]
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