quinta-feira, 12 de abril de 2012

Elegia com uma variação romântica

As mulheres loucas arrumam os quartos
 Fazem as camas desfeitas
 empilham camisas e calças
abotoam os cintos do infinito
 prendem os laços da sombra.
 Com os seus olhos cegos
 Enfiam agulhas no buraco da vida
 cosem as feridas do amor que não tiveram
 cantam devagar a canção da idade fria.
 Dispo essas mulheres no meu poema
 espalho as suas roupas pelas cadeiras
do quarto, abro a cama onde as deito
 rasgo os pontos que acabaram de coser.
 O seu sexo - seco pelos ventos
 de uma inquietação nocturna
-humedece-me os dedos.
 Desfolho os dias de março
enquanto desfloro os seus lábios.
 Por vezes, as mulheres loucas
 abrem a porta da varanda
respiram o perfume
 das trepadeiras brancas da primavera
 desmaiam com o sol.

[Nuno Júdice]



Imagem: Marc Chagall

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