As mulheres loucas arrumam os quartos
Fazem as camas desfeitas
empilham camisas e calças
abotoam os cintos do infinito
prendem os laços da sombra.
Com os seus olhos cegos
Enfiam agulhas no buraco da vida
cosem as feridas do amor que não tiveram
cantam devagar a canção da idade fria.
Dispo essas mulheres no meu poema
espalho as suas roupas pelas cadeiras
do quarto, abro a cama onde as deito
rasgo os pontos que acabaram de coser.
O seu sexo - seco pelos ventos
de uma inquietação nocturna
-humedece-me os dedos.
Desfolho os dias de março
enquanto desfloro os seus lábios.
Por vezes, as mulheres loucas
abrem a porta da varanda
respiram o perfume
das trepadeiras brancas da primavera
desmaiam com o sol.
[Nuno Júdice]
Imagem: Marc Chagall
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