Anda-me o amor tomando a própria vida
como se amando, eu existisse mais.
E leva-me o Destino em voz traída
como se houvera encontros desiguais.
A multidão me cerca e renascida
já dela terei fome de sinais.
E mal a noite se demora ardida
o medo e a solidão me esfriam tais
as cinzas desse amor que sacrifico.
Não é futura a só miséria.
A queixa também não é
e apenas acontece no vácuo imenso
que este amor me deixa quando maior
quando de si mais rico
se dá de mundo em mundo
e lá me esquece.
[Jorge de Sena]
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