O tempo seca a beleza
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve
desúnido para sempre
como as areias nas águas.
O tempo seca a saudade
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.
O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco
vestígio do musgo humano
na densa turfa mortuária.
Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque
não na terra, Amor-Perfeito
num tempo depois das almas.
[Cecília Meireles]
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