terça-feira, 5 de junho de 2012

A Eterna Ausência

 Eu aguardei com lágrimas
 e o vento suavizando o meu instinto aberto
no fumo do cigarro ou na alegria das aves
o surgimento anónimo, no grande cais da vida
 desse navio nocturno
que me trazia aquela com lábios evidentes
e possuindo um perfil indubitável
mulher com dedos religiosos
e braços espirituais...

Aquela mulher-pirâmide
 com chamas pelo corpo
e gritos silenciosos nas pupilas.

Amante que não veio como a noite prometera
numa suspensa nuvem
 acordar meu coração de carne e alguma cinza...

Amante que ficou não sei aonde
a castigar meus dias involúveis
ou a afogar meu sexo na caveira
deste carnal desespero!...

[António Salvado]

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