Rubricavam os decretos, as folhas tristes
sobre a mesa dos seus poderes efémeros.
Queriam ser reis, czares, tantas coisas
e rodeavam-se de pequenos corvos
palradores e reverentes, dos que repetem:
és grande, ninguém te iguala, ninguém.
Repartiam entre si os tesouros e as dádivas
murmurando forjadas confidências
não amando ninguém, nada respeitando.
Encantavam-se com o eco liquefeito
das suas vozes comandando, decretando.
Banqueteavam-se com a pequenez
de tudo quanto julgavam ser grande
com os quadros, com o fulgor novo-rico
das vénias e dos protocolos.
Vinha a morte e mostrava-lhes
como tudo é fugaz quando
humanamente, se está de passagem
corpo em trânsito para lado nenhum.
Acabaram sempre a chorar sobre a miséria
dos seus títulos afundados na terra lamacenta.
[José Jorge Letria]
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