Nenhuma morte apagará os beijos
e por dentro das casas onde nos amámos
ou pelas ruas clandestinas da grande cidade livre
estarão para sempre vivos os sinais de um grande amor
esses densos sinais do amor e da morte
com que se vive a vida.
Aí estarão de novo as nossas mãos.
E nenhuma dor será possível onde nos beijámos.
Eternamente apaixonados, meu amor.
Eternamente livres.
Prolongaremos em todos os dedos os nossos gestos e,
profundamente, no peito dos amantes
a nossa alma líquida e atormentada
desvenderá em cada minuto o seu segredo
para que este amor se prolongue e noutras bocas
ardam violentos de paixão os nossos beijos
e os corpos se abracem mais e se confundam
mutuamente violando-se, violentando a noite
para que outro dia, afinal, seja possível.
[Joaquim Pessoa]
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