sábado, 2 de outubro de 2010

A morte da água


 
Um dos passeios que mais gosto de dar é ir a Esposende ver desaguar o cávado.
 Existe lá um bar apropriado para isso. Um rio é a infância da água. As margens, o leito, tudo a protege.
 Na foz é que há a aventura do mar largo. Acabou-se qualquer possível árvore geneológica, visível no anel do dedo. Acabou-se mesmo qualquer passado. É o convívio com a distância, com o incomensurável, é o anonimato!
 E a todo o momento há água que se lança nessa aventura.
 Adeus margens verdejantes, adeus pontes, adeus peixes conhecidos.
 Agora é o mar salgado, a aventura sem retorno, nem mesmo na maré cheia e é em Esposende que eu gosto de assistir, durante horas, a troco de uma imperial, à morte de um rio que envelheceu a romper pedras e plantas, que lutou, que torneou obstáculos.
  Impossível voltar atrás, agora é a morte ou a vida.

[Ruy Belo]

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