segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Mãe, eu estou tão Cansado

Mãe, eu estou tão Cansado

Mãe, eu estou tão cansado e sinto nos ossos
o chamamento da água, o chamamento sibilino
que se confunde com o ranger das portas das casas
onde jamais voltarei: venha veloz o sono capaz
de me resgatar e que dentro dele se perfilem
as sombras e os gestos, exército dos meus medos
mais secretos, temores enrodilhados na roupa húmida
das camas.
Mãe, a luz não se demora no meu quarto
morre nas corolas das flores que trouxeste
para o riso não murchar e eu fico doente só de olhar
os muros onde a hera é espiral de espanto, raiz
de uma enfermidade latente.
Não voltarei
às actas do desespero, que são sombrias e magras
como os corpos dos amantes que definham sobre a areia
na fúria da maré, com uma gramática de murmúrios
escondida na solidão branca das dunas, mãe.

[José Jorge Letria]

Mãe, tu sabes que é verdade.

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