H U M A N I D A D E
Na tarde calma e fria que circula
por entre os eucaliptos e a distância
olhando as nuvens quase nada rubras
e a névoa consentida pelos montes
névoa não subindo por não ser
fumo da vida que trabalha e teima
e olhando uma verdura fugitiva
que a noite no céu queima tão depressa
esqueço-me que há gente em cada parte
gente que, de sempre, sofre e morre
e agora morre mais ou sofre mais
esqueço-me que a esperança abandonada
a não ser de ninguém, é sempre minha
esqueço-me que os homens a renovam
que o fumo de seus lares sobe nos ares.
Esqueço-me de ouvir cheirar a Terra
esqueço-me que vivo... E anoitece.
[Jorge de Sena]
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