segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

As Minhas Asas

Eu tinha umas asas brancas
Asas que um anjo me deu
Que, em me eu cansando da terra
Batia-as, voava ao céu.
Eram brancas, brancas, brancas
Como as do anjo que mas deu:
Eu inocente como elas
Por isso voava ao céu.

Veio a cobiça da terra.
Vinha para me tentar
Por seus montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.
Veio a ambição, co'as grandezas
Vinham para mas cortar
Davam-me poder e glória
Por nenhum preço as quis dar.

Porque as minhas asas brancas
Asas que um anjo me deu
Em me eu cansando da terra
Batia-as, voava ao céu.

Mas uma noite sem lua
Que eu contemplava as estrelas
E já suspenso da terra
Ia voar para elas
Deixei descair os olhos
Do céu alto e das estrelas...
Vi entre a névoa da terra
Outra luz mais bela que elas.

E as minhas asas brancas
Asas que um anjo me deu
Para a terra me pesavam
Já não se erguiam ao céu.
Cegou-me essa luz funesta
De enfeitiçados amores...
Fatal amor, negra hora
Foi aquela hora de dores!
Tudo perdi nessa hora
Que provei nos seus amores
O doce fel do deleite
O acre prazer das dores.

E as minhas asas brancas
Asas que um anjo me deu
Pena a pena me caíram...
Nunca mais voei ao céu.

[Almeida Garrett]

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