quinta-feira, 28 de abril de 2011

Balada do caixão

O meu vizinho é carpinteiro
Algibebe de Dona Morte
Ponteia e cose, o dia inteiro
Fatos de pau de toda a sorte:
Mognos, debruados de veludo
Flandres gentil, pinho do Norte...
Ora eu que trago um sobretudo
Que já me vai a aborrecer
Fui-me lá, ontem: (Era Entrudo
Havia imenso que fazer...)
Olá, bom homem! quero um fato
Tem que me sirva? - Vamos ver...
Olhou, mexeu na casa toda.
- Eis aqui um e bem barato.
- Está na moda? - Está na moda.
(Gostei e nem quis apreçá-lo:
Muito justinho, pouca roda...)
- Quando posso mandar buscá-lo?
- Ao pôr-do-Sol. Vou dá-lo a ferro:
(Pôs-se o bom homem a aplainá-lo...)

Ó meus Amigos! salvo erro
Juro-o pela alma, pelo Céu:
Nenhum de vós, ao meu enterro
Irá mais "Dandy", olhai! do que eu!

[António Nobre]

Sem comentários:

Enviar um comentário