sexta-feira, 13 de maio de 2011

Vê se há mensagens

Vê se há mensagens

no gravador de chamadas
rega as roseiras
as chaves estão
na mesa do telefone
traz o meu
caderno de apontamentos
(o de folhas
sem linhas,as linhas distraem-me).
Não digas nada
a ninguém
o tempo,agora
é de poucas palavras
e de ainda menos sentido.
Embora eu,pelos vistos
não tenha razão de queixa.
Senhor,permite que algo permaneça
alguma palavra ou alguma lembrança
que alguma coisa possa ter sido
de outra maneira
não digo a morte, nem a vida
mas alguma coisa mais insubstancial.
Se não para que me deste os substantivos e os verbos
o medo e a esperança
a urze e o salgueiro
os meus heróis e os meus livros?
Agora o meu coração
está cheio de passos
e de vozes falando baixo
de nomes passados
lembrando-me onde
as minhas palavras não chegam
nem a minha vida
Nem provavelmente o “Adalat ou o Nitromint.”

[Manuel António Pina]

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