segunda-feira, 25 de julho de 2011

Da Nossa Morte

Agora é tarde.
Ninguém responde às cartas
 que escrevi e atirei ao mar
quando pensei que um dia
 serias como esse marinheiro
 que num sonho antigo
 abençoava o filho
 e depois partia nas asas do albatroz.

Agora é tarde.
Ninguém responde à sombria música
 dos meus punhos golpeando a cadeira vazia
a mesa, as folhas em branco
 onde uma única palavra se aproxima
manejando as suas armas
três letras, três sinais de fogo.

Agora é tarde.
Ninguém cala os tempestuosos rios
 no fundo dos meus olhos
quando penso nos vermes
nas viscosidades que te procuram
 através do cetim.

[José Agostinho Baptista]

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