Eu cantarei um dia da tristeza
por uns termos tão ternos e saudosos
que deixem aos alegres invejosos
de chorarem o mal que lhes não pesa.
Abrandarei das penhas a dureza
exalando suspiros tão queixosos
que jamais os rochedos cavernosos
os repitam da mesma natureza.
Serras, penhascos, troncos, arvoredos
ave, ponte, montanha, flor, corrente
comigo hão-de chorar de amor enredos.
Mas ah! que adoro uma alma que não sente!
Guarda, Amor, os teus pérfidos segredos
que eu derramo os meus ais inútilmente.
[Marquesa de Alorna]
«LEONOR DE ALMEIDA PORTUGAL LORENA E LENCASTRE»
Escritora portuguesa, natural de Lisboa, Leonor de Almeida Portugal Lorena e Lencastre recebeu os títulos de condessa de Assumar e marquesa de Alorna por morte de seu irmão, em 1813.
Desenvolveu o seu interesse pela literatura e pelas ciências no convento de Chelas, onde esteve reclusa durante dezoito anos, devido ao seu parentesco com a família dos Távora, sentenciada pelo marquês de Pombal por envolvimento no atentado a D. José.
Livre a partir de 1777, casou com um nobre alemão, o conde de Oyenhausen.
As viagens que fez pela Europa permitiram-lhe alargar os seus horizontes culturais e conhecer figuras proeminentes da época.
Foi tradutora, epistológrafa e poetisa. Viúva aos 43 anos e com dificuldades económicas, manteve, no entanto, o interesse pelas actividades culturais, realizando tertúlias em sua casa.
Empenhada na política, na literatura e na arte do seu tempo, defendeu as suas convicções e o seu amor pelo saber.
Admirou as grandes figuras do iluminismo europeu e os seus ideais.
Adoptando o nome literário de Alcipe, de entre as suas obras destacam-se "Recreações Botânicas", "poema em seis cantos", "Cartas a Uma Filha Que Vai Casar", (texto que revela uma grande preocupação com a educação feminina), "Obras Poéticas" (1844, seis volumes, incluem epístolas, odes, sonetos, éclogas, elegias, canções, apólogos, cantigas e epigramas), Inéditos, Cartas e Outros Escritos (1941) e Poesias (1941). Pelas características temáticas da sua poesia, é considerada uma escritora pré-romântica.
Das inúmeras traduções que fez destacam-se Arte Poética de Horácio (com anotações) e Ensaio sobre a Crítica de Pope.
Sem comentários:
Enviar um comentário