sábado, 27 de agosto de 2011

JARDIM PERDIDO

Jardim perdido, a grande maravilha
Pela qual eternamente em mim
A tua face se ergue e brilha
Foi esse teu poder de não ter fim
Nem tempo, nem lugar e não ter nome.

Sempre me abandonaste à beira duma fome.
As coisas nas tuas linhas oferecidas
Sempre ao meu encontro vieram já perdidas

Em cada um dos teus gestos sonhava
Um caminho de estranhas perspectivas
E cada flor no vento desdobrava
Um tumulto de danças fugitivas.

Os sons, os gestos, os motivos humanos
Passaram em redor sem te tocar
E só os deuses vieram habitar
No vazio infinito dos teus planos

[Sophia de Mello Breyner Andresen]