A minha sombra sou eu
ela não me segue
eu estou na minha sombra
e não vou em mim.
Sombra de mim que recebo a luz
sombra atrelada ao que eu nasci
distância imutável da minha sombra a mim
toco-me e não me atinjo
só sei do que seria
se de minha sombra chegasse a mim.
Passa-se tudo em seguir-me
e finjo que sou eu que sigo
finjo que sou eu que vou
e não que me persigo.
Faço por confundir a minha sombra comigo:
estou sempre às portas da vida
sempre lá, sempre às portas de mim!
[José de Almada Negreiros]