O futuro é espaço
espaço da cor da terra
da cor da nuvem
da cor da água, do ar
espaço negro para muitos sonhos
espaço branco para toda a neve
e para toda a música.
Atrás ficou o amor desesperado
que não tinha lugar para o beijo
há lugar para todos no bosque
em plena rua, em casa
tem sítio subterrâneo e submarino
que prazer é achar, por fim
subindo um planeta vazio
grandes estrelas claras como a vodka
tão transparentes e desabitadas
chegar com o primeiro telefone
para que falem mais tarde
outros homens das suas enfermidades.
O importante é apenas perceber-se
gritar desde uma dura cordilheira
e ver numa outra ponta
os pés de uma mulher recém-chegada.
Adiante, vamos sair do rio sufocante
em que com outros peixes navegamos
desde a manhã, à noite migratória
e agora neste espaço descoberto
vamos voar para a pura solidão.
[Pablo Neruda]